Dia 4, 21h30 - Hotel Axis Vermar: Sala de Congressos - Auditório
“66 Cinemas” (66 Kinos), de Philipp Hartmann (Ale, 2016, Doc, 98 min.)
Num tempo pré-Covid, Philipp Hartmann fez um filme, viajou com ele pelo circuito alemão de cinemas independentes (tudo o que não seja pertencente a uma cadeia de cinemas comerciais) e fez disso um outro filme. Um panorama de uma variada mistura de cinemas geridos por cinéfilos. Um Amor partilhado que significa também uma partilha de sofrimento. A existência de cada um desses cinemas está ameaçada.
“66 CINEMAS” retrata algumas das 66 salas de cinema alemãs que Philipp Hartmann visitou em 2014/15 como parte de uma digressão pelos cinemas com seu filme anterior “O tempo voa como um leão que ruge”, e dá-nos um panorama da realidade que os pequenos cinemas independentes viveram ou estão a viver. Apesar de muitas semelhanças – todos têm que reagir às consequências da digitalização, às mudanças de hábitos de visualização do público ou aos desafios económicos – é evidente que cada cinema encontra os seus próprios caminhos e estratégias, sempre fortemente marcados pelo empenho dos operadores e colaboradores.
A visão caleidoscópica e dramaturgicamente construída de cinemas muito diferentes, com as suas arquiteturas e organização do trabalho, bem como as pessoas que estão por trás desses cinemas, concentra-se num panorama da paisagem do cinema alemão em toda a sua amplitude – entre cineclubes, cinemas comunitários, cinemas de arte e ensaio e multiplexes.
Pode alguma coisa ser um hobby se é o teu trabalho? Pode alguma coisa ser trabalho se a amas tanto? Estas são questões que o dono de um dos cinemas se pergunta durante o documentário. Ao longo do filme, elementos das equipas dos diversos cinemas respondem afirmativamente a estas retóricas questões. Passamos por máquinas de pipocas e por cabines de projeção no caminho para as salas de cinema. Mas há um senão. O resultado da venda de comida e bebida é fundamental para o equilíbrio das contas. Será que blockbusters de Hollywood deveriam ser exibidos também nestes cinemas, para equilibrar as contas? E será que isso é suficiente? Ir ao cinema será igual dentro de uma década? Ou o conceito precisará de ser repensado?.
"'66 Cinemas' chama a atenção para um aspeto pouco explorado: cada cinema representa algo de único na relação com uma comunidade especifica, a morte de uma sala é sempre a morte de uma memória qualquer (por oposição a um gigante do streaming, que tem milhares de filmes, mas história nenhuma). A par disto, vai ao encontro de uma civilização perdida, a da película, com todos os seus pormenores incompreensíveis para uma geração já nada e criada na época digital." - Luís Miguel Oliveira, Ípsilon, Público, 4 de dezembro de 2020